segunda-feira, 22 de outubro de 2007

As cores da Feira de São Joaquim


Acorde bem cedo no sábado, coloque um chinelo e uma roupa bem leve, pegue a sacola e vá à feira de São Joaquim.



Por Anne Pinto.



Com quase quarenta e dois anos, a feira de São Joaquim localizada em Água de Meninos (antigo nome), na Cidade Baixa conta com um espaço físico de 34.00m2 e oito mil feirantes. Freqüentada pelos mais variados perfis de baianos, alguns até moram por lá e outros conhecem desde sua formação, que foi instalada no atual espaço em meados do século passado, por conta de um incêndio em 1964. Sua trajetória iniciada com a Feira do Sete, assim chamada porque ficava ao lado do sétimo armazém das Docas. No começo a feira era móvel, os produtos vinham do Recôncavo Baiano, eram dos mais diversos produtos: entre frutas e verduras, encontrávamos rapadura, farinha e artesanatos em geral.



Segundo a Idealizadora e organizadora do projeto Ação Emergencial da feira de São Joaquim, Petinha Barreto, juntamente com a Fundação Gregório de Matos, a feira está em processo de obtenção do título de Patrimônio Cultural Nacional. Petinha fala que a feira é fonte de inspiração onde foi feito um vídeo - Nos trilhos da feira- que já está pronto a espera da reprodução. “ O vídeo mostra todos os relatos da feira e as ações feitas pelo projeto, onde vai ajudar os feirantes na conquista de obter o Patrimônio”. O coordenador da feira, Joel Anunciação ressalta a luta dos feirantes pelo registro da feira, “ nós temos medo de que acabem com a nossa tradição, a população quer transformar a feira em um mercadão”, por isso a preocupação dos feirantes que tem a feira como meio de sobrevivência.



Nos corredores nota – se em seus nuances rotineiros músicas de todos os etilos, feirantes anunciando promoções, o povo falando e comprando, entre outras observações possíveis a olho nu. Com uma comunicação variada, a feira traduz o choque de cores ali presente, destaca a linguagem do cotidiano – regida pelo dito popular de função extremamente apelativa. “ Vem comprar barato freguesa”, anuncia José Santos feirante à 20 anos, a frase mais comum ouvida na feira, faz a propaganda das barracas de frutas, verduras, artesanatos entre outros. Atraindo clientes pelo jeito de propagar seus produtos, os feirantes recebem saldo positivo, “acredito em outras estratégias para atrair e conquistar os meus clientes, ofereço uma amostra gratuita do meu produto e eles acabam levando”, ressalta dona Joana que ainda acrescenta que a feira é um dos pontos mais tradicionais do comércio da cidade de Salvador.



A feira que na época era controlada pela Prefeitura para não estabelecer ponto fixo, obteve um crescimento espontâneo onde marcou a diversidade das instalações, que atraiam turistas pelas suas especiarias locais e pela proximidade do cais em plena atividade. Em meio a tantos boxes, barracas que vedem folhas para banho, colares, produtos de barro, artigos que expande a cultura baiana e a fé popular, a pluralidade aliada a preços baixos, que fazem da Feira de São Joaquim o lugar tão visitado e recomendado para quem chega a capital baiana.


Há anos como centro semi-atacadista, a feira resiste ao oferecer os menores preços da cidade, precisando de melhora na infra – estrutura, a feira possui um circulo de relações reconstruídas e acomodadas através do tempo e pelos abalos modernizadores da sociedade global, tornando- a única no gênero com sua importância inegável.



A mistura de sons, cores e penduricalhos que envolvem a feira fazem à rotina das pessoas que circulam pelas vias de São Joaquim começar antes do sol aparecer. Corredores que enchem os olhos dos fregueses e turistas que chegam ao local, fazendo refletir a história de Salvador. Como patrimônio cultural da Bahia a feira folclórica funciona para a cidade ou como atração turística.




Feirantes nativos desde a década de 20, filhos de feirantes criados na feira, antigos empregados e atuais patrões, hoje são donos de empreendimentos familiares, que percebem a mudança e etapas da feira, onde existem suas tribos e mundos distribuídos no labirinto de barracas. Mundo este de atividades clandestinas e marginais que se misturam no relacionamento colorido entre frutas e verduras diante da sociedade, é uma comunidade sujeita a inovações e mesmice.



Guardando a tradição e construindo personagens, São Joaquim reproduz o antigo mercado, símbolo cinematográfico onde se encontra ouro, alimentos, artes, animais entre outras especiarias. “Na feira tem de tudo o que está exposto e sempre é negociado, e o que não está sempre tem outra forma de comercialização” afirma dona Raimunda Dantas, freqüentadora da feira desde a época que vinha com a mãe.



No meio aos boxes encontra – se um ambiente atraente e religioso. Com a mistura de índios , negros, mulatos e brancos percebe – se a religiosidade nas barracas, nos produtos e na relação dos clientes e feirantes. Surgindo o dualismo, a junção do sagrado e do profano a descoberta do moderno e do arcaico, exemplo claro na feira de São Joaquim que em suas formas tradicionais pode – se encontra a relação de produtos artesanais (santos, colares, panelas de barro etc.) com os produtos industriais ( vídeo games, jogos, aparelhos eletrônicos etc.). Apesar da mistura a feira não perde o encanto, a importância, o papel de representar a Bahia. Torna – se diferente por superar a carência do povo baiano.



Senhor Silva, taxista e freqüentador da feira de São Joaquim, dar dicas para quem vai visitar a feira : “não se preocupe com o estacionamento, é bom aderir do ônibus ou do táxi, divirta – se com a mistura de feirantes, artistas, poetas, escritores e fregueses que se envolve na mais colorida feira do estado, boa sorte e volte sempre!”




Reportagem e Entrevista: Anne Pinto.Fonte: Feira de São Joaquim, Fundação Gregório de Matos e Projeto Ação Emergencial da Feira de São Joaquim.21.04.2006.



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